Para a surpresa dos que veem as variantes pandêmicas como os elementos em maior evidência este ano, videntes, tarólogos, astrólogos, mães e pais de santo revelam que, na verdade, são as variantes linguísticas que marcarão o ano de 2022.
Os búzios de Mãe Bortoni de Iansã dizem que 2022 será regido por Oxum – orixá da fala e da escrita –, o que pressagia inovações na linguagem verbal. Isso porque, por ser também orixá dos rios e das cachoeiras, a mãe Oxum traz inevitavelmente variação e mudança: “Em vez de covid, seremos acometidos de pandemia linguística, cheia de variantes contra as quais muita gente não vai querer se vacinar”, profetizou.
Já a vidente Lene Sensitiva faz previsões pessimistas. Ela observa que “estamos entrando no quarto ano apocalíptico, de um total de nove anos. Boomers e millennials enfrentarão a insurreição ortográfica e morfossintática da Geração Z: fim do masculino genérico, consolidação da linguagem neutra e uma ausência cada vez maior de pontuação, deixando vírgulas e pontos de interrogação à beira da extinção. Pior: isso não vai ficar só na Internet. O emprego de dialetos zillennials para além dos meios virtuais dificultará ainda mais a comunicação entre as gerações. Será preciso muita reza”.
No âmbito dos astros, a astróloga Marta Scherre prevê muita tensão: “Teremos vários planetas retrógrados, entre eles Vênus e Marte, que zelam por tradições e regras ultrapassadas. Por outro lado, a quadratura entre Saturno e Urano indica muita problematização de cânones linguísticos tradicionais”. Ela explica que essa quadratura é um aspecto astrológico que traz conflito entre as concordâncias e regências verbais tradicionais e as modernas, com consequente polarização do país entre progressistas e reacionários linguísticos. “Será tenso, pois estamos lidando, de um lado, com um planeta que representa preciosismo, cultismo, purismo e hipercorreção (Saturno) e, do outro, com um astro que simboliza variação, mudança, aceitação e liberdade estilística (Urano)”.
E a economia? Vai finalmente melhorar? Segundo Pai Bagno de Xangô, “o que vai bombar mesmo em 2022 é só a economia linguística”. O babalorixá vaticina que “metaplasmos diversos, como as epênteses (arroiz, deiz, nóis), síncopes (bestera, abobra, árvre) e apócopes (vaciná, adoecê, depô), que já eram frequentes até na fala de pessoas altamente letradas ou escolarizadas, vão se multiplicar. E, para o desespero dos negacionistas, não sofrerão rejeição nem estigmatização”. Ele aposta no reaquecimento do mercado e adianta que qualquer resistência tradicionalista é inútil, já que os próprios negacionistas acabam cedendo a tudo isso na prática: “Como vimos em anos anteriores, até gente supostamente culta e instruída do Direito andou investindo em economia linguística, reduzindo ‘cônjuge’ a ‘conge’. Que ninguém dessa elite pedante e inculta reclame, portanto, dos investidores populares, que este ano continuarão contribuindo para os investimentos mais rentáveis do mercado linguageiro, como as eliminações do plural redundante, assimilações fonéticas, haplologias e monotongações”.
De acordo com a numerologia, o arcano regente do ano de 2022 é o número 6, que no tarô corresponde à carta conhecida como Os Amantes ou Os Enamorados. A taróloga e numeróloga Janaína Ferraz explica que isso significa que este ano estará em foco o livre-arbítrio: “Este ano teremos a oportunidade de aprender que ninguém deve sair interferindo de modo inflexível e autoritário nas escolhas estilísticas alheias. Nem mesmo professores de português ou revisores de texto. É importante que todo mundo aprenda a respeitar e a apreciar, nos textos dos outros, diversos usos legítimos que, muitas vezes, são até facultados pela própria norma culta, mas cuja abonação os sabichões desconhecem”.
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