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Foto do escritorEvandro Debochara

Pedantes se recusam a passar fim de ano com quem celebra final de ano e criam cercadinhos linguísticos

Cercadinhos em Copacabana foram instalados por militantes de extrema pureza – Foto: Raoni Alves/G1

O ano de 2024 chega ao seu final com uma polarização que vem se consolidando há tempos no país: de um lado, elitistas que festejam fins de ano, mas nunca finais de ano; de outro, pessoas que comemoram tanto fins quanto finais de ano. A intolerância contra o uso alternativo levou os militantes de extrema pureza a criarem cercadinhos linguísticos em praias onde se realizam grandes queimas de fogos. Não se admitem, nesses espaços, variantes usadas pela população e condenadas por celebridades gramaticais.

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Esses cercadinhos VIPs parecem excludentes, mas têm uma função social, que é proteger a língua, em sua forma mais pura, daqueles que a maltratam, explica a youtuber Marcela Tavares, que vai passar o fim de ano na praia de Copacabana. A justificativa de pessoas como Marcela para condenar o final de ano é alegar que, por ser adjetivo, final não poderia ocupar o mesmo lugar de fim, que seria a palavra corretamente usada como substantivo em locuções como fim do mês, fim de semana etc. Já que não existe inicial de ano, então não faz sentido haver final de ano’”, diz a influenciadora Cíntia Chagas em foto no Instagram tirada dentro de seu cercadinho em Balneário Camboriú.


O que acho engraçado é que essa galera vive usando, o ano inteiro, final num monte de coisa parecida e nem sente: final da copa, final feliz, o final da novela... Aí chega no final do ano e não pode, fica nessa palhaçada. Enfim, a hipocrisia, diz o vendedor ambulante Fininho, que vem derrubando cercadinhos por onde passa até o final da praia.


Se essas pessoas ao menos abrissem um dicionário, descobririam que final também é substantivo, e que não há nenhum crime de lesa-gramática em comemorar final de ano, diz o secretário de Ordem Pública do Rio de Janeiro, Brenno Carnevale. Muitas vezes, as pessoas que dizem defender a língua portuguesa são as mesmas que nunca consultam uma única gramática sequer para se certificar da correção que querem fazer. A gente abre um Bechara e tá lá, bem claro: FIM, FINAL. Estes substantivos com o sentido de momento ou ponto em que algo se encerra, última parte ou término podem ser indiferentemente usados ao dizermos, por exemplo: bom fim de semana ou bom final de semana. Pronto.


Carnevale afirmou que vai cassar a licença concedida pela prefeitura anterior, que permitiu a montagem de cercadinhos linguísticos com base em norma inexistente.


Vou cassar o alvará, e eles não vão mais cagar regras na areia. Agiram nitidamente com pedantismo, dando credibilidade cega pra influencers que tiram suas fontes do reto e alimentam preconceito linguístico. A praia é um espaço democrático. Pode e deve ser desfrutada por todas as variantes, disse o secretário.

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